quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Sair para entender o sentido das coisas


Quando o fazer se torna algo sem sentido, é hora de pensar, racionalizar um pouco. Talvez a intuição seja um rumo, um caminho que abre as portas automaticamente... Mas antes disso é preciso investigar, observar, esperar, perguntar no íntimo quais sinais levam ao verdadeiro, essencial. Você não consegue encontrar respostas ao teu redor e decide se afastar, sair um pouco do espaço tradicional, de modo que o cotidiano da rotina nada te diz, eis que o Movimento te põe a caminhar, com o principal objetivo de se encontrar... O encontro pode demorar, os dados estão a rolar.

Juntei uns trapos, umas palavras e os curtas realizados. Relações humanas são um tanto quanto estranhas, é preciso ter jogo de cintura, aprender a se adaptar, acostumar... Lembrei dos monstrinhos afetuosos da Patrícia Piccinini. Por aqui, tenho me apresentado de diversas formas, ora Jaqueline, Débora, Aline.... Personas que de algum modo são diferentes entre si, que surgem de acordo com a atenção dispensada, ou com o interesse projetado. Já passei por tanta gente que dá vontade de mudar também... Ser uma só, não dá. Não me confundam, não me refiro à máscaras e sim à personas.

Essa coisa de vendas é invocado, umas vezes se volta leve, outras pesado; mas no geral, as vivências tem sido interessantes. Tudo ou nada? Super nada.. Me diga, como identificar formas de navegar? Já entendi que a paciência e o tempo se encarregam de boa parte do trabalho, mas e a Motivação? Todo mundo sabe, falta um porquê. Dizem que palavras por palavras, melhor sentir o vento; mas de vez em quando é importante você se desafiar; mas o rapaz dos cabelos de macarrão disse que não adianta produzir, o grande lance é conseguir distribuir... Pronto, vou me candidatar a atendente!

No meio disso tudo, imagens estão surgindo, de modo intuitivo, sempre! Aposto tanto na intuição que não me conformo com a contramão, existe solução? Talvez vire algum curta experimental ou diário da viagem... Por enquanto o Fanzine "Em Processo" já está indo para a sua segunda edição, a primeira finalizada em Ouro Preto, a nova em São Paulo... Ô Produção?!

Agora que o ano termina e que a passagem de volta já está comprada, me ponho a refletir ... e o que fica disso tudo? O que pode ficar, ou melhor, algo ficará? Talvez só saiba daqui uns três, cinco, sete anos... o fato é que sinto que Cora me tocou quando falou das mãos... Nossas Mãos não podem parar!

Cinemá ~



sábado, 31 de outubro de 2015

A experiência Cine Bodó. Vivência, Mostra e Roda de Conversa.


O mês de Outubro se encerra e cá estou, mais uma vez agradecida por ter desenvolvido um projeto idealizado há muito tempo. Dessa vez tivemos patrocínio do Banco da Amazônia para a primeira edição da Mostra Itinerante de Audiovisual – Cine Bodó. Para a façanha contei com a parceria de produção da Keila Serruya, através da Picolé da Massa Produções, assim como a mobilização das manas Suzana Ito, Kathlen dos Santos, Claudilene Siqueira, Valéria Angeoles, Juliana Rosa Pesqueira e Bárbara Umbra, a mulherada no comando; os rapazes também deixaram sua contribuição, agradeço Thiago Hermido, Marcos Magalhães, Junior Moraes e Robert Coelho, pela disponibilidade.

O objetivo da Mostra foi percorrer quatro comunidades da cidade, Riacho Doce, Comunidade da Sharp, Novo Aleixo e Bairro da Paz, levando vivência de audiovisual e exibição de filmes. Nesta primeira edição, experimentação e reflexão sobre o processo foram elementos de pesquisa para um possível aprimoramento do que pode vir a ser em outros momentos/tempos. Além de desenvolver as atividades nas comunidades, ocupamos o Espaço de Cinema na Feira de Livros do Sesc; neste espaço organizamos rodas de conversa com pessoas que desenvolvem algum tipo de atividade no audiovisual manauara.

Na ocasião, foi oportuno conversar sobre temas recorrentes à nossa área de atuação; em forma de roda, que lembra trocas de saberes populares, destrinchamos a temática proposta em assuntos que muitas vezes extrapolavam a esfera do audiovisual. O público principal foram os visitantes da feira, em sua grande maioria estudantes da rede pública de ensino. Este é apenas um registro sistemático e resumido do que foi pautado durante as rodas de conversas, sem um intuito específico, a não ser à meu modo, organizar informações.

~

01 - Cinema, um panorama da cena Manauara. Participantes: César Nogueira, Leonardo Mancini, Michelle Andrews, Saleyna Borges e Anderson Mendes.

Para se ter representatividade é preciso se organizar, mas a organização necessita monitoramento, que por sua vez demanda tempo e planejamento. A regionalização do processo de produção possibilita incentivos mais concretos na nossa região, no entanto, os mercados competem entre si e não pensam possibilidades de construção coletiva a partir do desenvolvimento do nicho onde cada um atua. Pra que produzir? É preciso identificar um por que nas ações para saber o que fazer com o produto final; o processo de produção é importante para cada elemento que constrói, no entanto, é o produto final que precisa ser consumido.
É importante que as propostas audiovisuais daqui (AM) possam estar alcançando o circuito de festivais nacionais e internacionais; como resultado, é possível prever a ação política da circulação: realizadores em contato com dezenas de cenas existentes no Brasil, a produção local se solidifica e assim, podemos justificar a importância da mobilização em relação ao fortalecimento das ações políticas.
Passados quinze anos da retomada, já é possível fazer um panorama positivo da cena atual; se pudéssemos definir um nome para o momento seria aquilo que chamamos de impulso para o movimento; no audiovisual, esse impulso se dá com o colaborativismo, empreendedorismo e com uma delicada atenção para com o público. Para o futuro é possível visualizar políticas públicas solidificadas, a nova geração tecnológica utilizando de modo mais intenso dos efeitos especiais, e por fim, visualizamos a extinção do coitadismo tão presente nos discursos atuais.

“Eu, na minha categoria de artista, não posso me dar o luxo ao pessimismo”, César Nogueira.

02 - Políticas públicas, um caminho para o audiovisual. Participantes: Paulo César Freire e Luiz Carlos Martins.

O fato de Manaus não ter uma Lei de Incentivo Estadual ou Municipal, diz muito da mobilização da classe e do modo como as pessoas inseridas no mercado se movimentam. Já é possível gerar renda direta da produção audiovisual, mas não existe um fluxo contínuo, não existe uma produção em escala. Na publicidade sim, mas onde fica o Cinema? Existem profissionais para suprir essa possível demanda, o que falta é a organização de base, um encontro eficaz com o público e com as redes de financiamento.
Existem muitos desencontros, que por sua vez geram desarticulação em uma cena que ainda está engatinhando. Um diagnóstico sólido se faz necessário, pois a partir daí será possível entender de que modo os organismos pensam seu papel de protagonistas na construção e efetivação da política voltada para o audiovisual.
A indústria cultural tem grande participação no retrocesso, pois é preciso entender as dinâmicas regionais, de modo que possamos aceitar quem somos, o que fomos e o que podemos vir a ser.
Onde o cidadão K pode ter acesso ao acervo audiovisual que vem sendo produzido? Como organizar uma distribuição minimamente eficaz? É preciso se organizar agora, não podemos esperar passar mais quinze anos, o futuro é agora.

“A política é um produto, paguei vou levar; as pessoas votam e esperam que tudo dê certo”, Luiz Carlos Martins.

03 - Processos da Produção Audiovisual Autoral. Participantes: Jorge Kellaris, Débora Ykamura, Bárbara Umbra e Suzana Ito.

Cinema autoral e suas referências históricas; para ser autoral é preciso ser persistente no que se quer de fato. Autoral exige um diretor frio, calculista e engenheiro. Mas antes disso, exige um roteiro envolvente.
Disse Ruy Guerra: “O diretor tem que se preocupar com duas coisas no cinema, com o enquadramento da câmera e com os atores; se ele não fizer isso, pode ir se embalar em uma rede e deixar o Set andar sozinho”. Citando ainda Ruy Guerra, “Pra fazer Cinema só precisa ter uma coisa, saúde”.
É preciso ter uma gama de profissionais na cena local; com profissionais é possível se construir coisas novas, propostas diferentes; a construção requer união, mas se os seres se vêem como concorrentes, fica difícil.
A arte é universal, o povo é massa, o cidadão precisa ser ativo, somos poucos; de pouco em pouco a criança cresce, é preciso se envolver de modo emocional pra ser sincero. A repetição cria a estética de cada um.

“Difícil é envolver a equipe técnica de modo emocional no processo”, Débora Ykamura.

04 - Cineclube desafios e possibilidades. Participantes: Tom Zé, Carla Conorí e Darlan Guedes.

A premissa de um cineclube é o debate; onde tem cineclube tem diálogo, onde tem conversa tem realizadores... ou pessoas que querem realizar. Os desafios permeiam a compreensão do Cineclube como espaço político formador, a conquista de adeptos e o controle dos direitos autorais.
As possibilidades que contrapõe os desafios permeiam a itinerância, disseminação das atividades e a repercussão das temáticas propostas nos filmes escolhidos para debater. O Cineclube pode ser uma ferramenta de mudança social, a exemplo disso temos ações além-exibição, onde pessoas da própria comunidade se vêem como protagonistas e declaram “Ação”.
A representatividade do Cineclube Nacional é organizada e trabalha de modo eficaz, o que falta é formar pontos de exibição de modo micro, para a engrenagem não parar de funcionar. A facilidade de produção dos tempos atuais, possibilita uma gama de experimentação que a longo prazo, pode resultar na construção de uma linguagem inovadora, mas para se ter densidade é preciso ter conteúdo.

“Para desenvolver alguma relação com o Cineclube, é preciso ser tarado em Cinema”, Tom Zé.

05 - Amazônia e os seres audiovisuais. Participantes: Gustavo Soranz, Marcos Tupinambá, Liliane Maia e Bruno Villela.

O mito da Origem da Amazônia se perpetua na construção audiovisual que passa por aqui, nesse sentido somos prioritariamente locação. Sendo somente palco, quem atua de modo direto dentro da narrativa vem de fora, nos tornamos mão de obra braçal.
A negação da origem indígena causa uma repulsa pelo que trás à tona essa realidade; temos assim uma história esquecida e massacrada, onde os seres da cidade exorcizam o indígena. A mitologia indígena é um poço infindável de narrativas inovadoras, assim como o antiquário da realidade urbana.
Em comparação ao Rio de Janeiro, estamos na frente em termos de quantidade de produtos audiovisuais realizados, no entanto, o aperfeiçoamento estético requer investimento; aos poucos esse quadro está mudando, devido o estímulo à formação técnica, que requer tempo e articulação com o poder público.
A extensão amazônica impossibilita um monitoramente eficaz, mas já é possível avaliar os últimos anos de produção e identificar elementos de desenvolvimento positivo. Muitos estão produzindo, é precisamos identificar o modo de fazer particular de cada nicho, a partir daí será possível pensar formação e construção estética, que se desenvolverá na efetivação de ações do poder público.
Não podemos prosseguir a conversa sem citar o poder público; por exemplo, ninguém entende porque não se consegue uma articulação que envolva uma lei do audiovisual. Fica a indagação.
Pelo fato da retomada da produção audiovisual local ter sido re-estabelecida como Hobby, é mais dificultoso entender a importância do profissionalizar e o do monitoramento do arranjo produtivo.
Sobre os seres audiovisuais que aparecem na Amazônia, podemos pensar que aqui é um lugar onde as pessoas vem e vão, um lugar de visita. Existe uma exploração visual, onde as pessoas deixam de ser cientistas e vão ser cineastas.
Está na hora de elaborarmos uma espécie de manifesto, não como orientação do processo, mas como afirmação dele, por aqueles que decidem percorrê-lo e que de algum modo se identificam.  Hoje nós temos um cinema ilustrativo, mas que tem ferramentas e recursos para qualificar a produção; estamos em um momento de mudança e caminhamos para um cenário mais positivo.

“Os seres audiovisuais precisam ser paridos”, Liliane Maia.

06 - Construção de narrativas audiovisuais. Participantes: Zeudi Souza, Omar Oliveira, Felipe Aufiero, Diego Bauer e Vânia Blois.

É necessário identificar o seu público, para assim desenvolver uma proposta que possa suprir a necessidade de quem assiste. Uma narrativa densa leva, guia, mostra um caminho que enquanto é apresentado é, também, construído à medida que o expectador interpreta os signos colocados na tela.
Mas pra onde uma não-narrativa te leva?
É preciso saber que tipo de emoção você quer causar no expectador, sem esquecer que ele está sujeito a infinitas variáveis que podem interferir na proposta de degustação de um filme... Nisso, a narrativa sendo firme no seu propósito, certamente prende o cidadão do início ao fim.
Se o filme existe a partir da ótica do outro, não é interessante ser previsível. Mas não é por isso que você vai vomitar qualquer coisa de modo aleatório e vai esperar que o expectador tenha uma fácil compreensão. É preciso causar sensações.
O autor não pode ser preguiçoso, o nosso cotidiano por si só tem inúmeras camadas, porque um filme não teria? Uma cena com um personagem em um quarto, que se resume em um único plano, pode ter dezenas de camadas, imagine narrativas mais amplas. A construção de narrativas nada mais é que um exercício, uma forma de arrumar a bagagem para você poder viajar pra qualquer lugar. Pensando cinema, envolve comprometimento com o público; os Cineastas devem sobreviver do Cinema? Se a resposta for positiva, é preciso pensar no escoamento do produto final e de que modo ele retornará para o realizador.

“A barriga fala”, Vânia Blois.

07 - Mulheres e a Sétima Arte. Participantes: Keila Serruya e Fávia Abtibol.

A mulher sempre foi mulher em qualquer esfera; o que muda são as posturas adotadas pelas machistas e pelas livres. Desde os primórdios, as mulheres são mais enraizadas como processo; o homem é caçador e tem que pensar sobre a relação dos dois em um contexto social. As diferenças existem e precisam ser respeitadas, de modo que a autenticidade de cada um seja sincera; não somos seres monocromáticos.
Quando não sabemos como resolver determinadas questões é hora de conversar; a sororidade deveria ser pauta principal quando se fala em conversa entre mulheres e questão de gênero.
Hoje podemos nos organizar, dominar os processos burocráticos e nos utilizarmos das ferramentas disponíveis para caminhar; às vezes o processo é lento, mas é preciso ser firme; o resto é questão de tempo. Não precisamos de divulgação e sim de planejamento e ações pontuais.

“Se você tem possibilidade de mudar, mude agora”, Flávia Abtibol.

08 - Caminhos da interpretação no cinema. Participantes: Vanessa Pimentel e Paulo Queiroz.

O ator é delicado, é preciso ter cuidado; de todo modo, ator é ator em qualquer veículo. Um ator que passou pelo processo de construção, não vai rejeitar um estudo, um laboratório para construir os processos de determinado personagem.
Se o diretor não tem intimidade com o ator, pelo menos ele precisa ter técnicas de preparação. Aliás é um corpo no cinema, precisa de motivação. Ator não tem limite, mas tem um tempo.
O mercado é formador, os que estão envolvidos nele estão em processo de formação também, todos somos alunos e as pessoas são diferentes, aprendem de modo diferente também. Ninguém pode se dizer o dono da verdade, as afirmações são possibilidades de interpretação.

“Interpretar é uma dança, dirigir é uma regência; tem que saber conduzir”, Paulo Queiroz.

09 - Alicerce intuitivo e o referencial teórico. Participantes: Adriano Furtado e Susy Freitas.

A intuição antes de tudo está do lado irracional, deste modo ela pode facilmente nos enganar por trás da máscara do sublime ou especial. Intuição é senso comum, dá uma ideia superficial das propostas; ela sem conceito é cega. Na hora de colocar a intuição em prática, é preciso ter referencial teórico. O que dá sentido a intuição é a teoria que cada um adquiriu, mas ainda assim, ela só é real se for prática.
A teoria ajuda a executar as propostas com perfeição, dispõe da capacidade de dialogar, disponibiliza um chão onde pisar na realidade; sem teoria a ideia fica vaga. Nada impede que um grande teórico se utilize da intuição para prosseguir no caminhar investigativo, o contrário não acontece. Alguns tem medo da teoria por ela ser libertadora; a teoria é consistente, de modo que conduz o pesquisador a qualquer lugar e não o abandona, diferente da intuição.


“As teorias não conseguem ser completas e coerentes sem o uso da intuição”, Adriano Furtado.


terça-feira, 11 de agosto de 2015

Em processo com pitada de Pranto Lunar


É tão bom ver a coisa toda tomar corpo... é preciso entender dos fluxos inconstantes, dos rios.... É normal se deparar com pedras no caminho, que talvez você mesmo tenha colocado, muita atenção pra perceber e pra reconhecer.
Mas uma hora é preciso respirar e tocar a bola; naturalmente as coisas vão ocupando seus devidos espaços, pode ser contramão, mas quando for de ser, acontecerá... sem pressa no navegar! Sempre tem uma boa música por perto, aliás precisamos de “músicas em nossas vidas”.
A música vai guiando o ritmo do caminhar, mas o princípio é o movimento. Depois vem o agradecimento, bem me ralhou ao telefone, agradecimento trás coisas boas. Dito e feito. Tenho aprendido com um e com outro que se permite, d e v a g a r ~

----------------------
"Se você tem uma ideia, voe com ela."
----------------------

Mas a novidade é que no próximo dia 21 teremos a primeira exibição do “Pranto Lunar”, no Teatro Gebes Medeiros. Na ocasião vamos contar com a presença dos moradores da Aldeia Cipiá, que irão realizar uma participação musical, assim como o querido Pereira irá cantar o que quiser... É bom ver que depois de um tempo pensando que o caos anularia as ações, perceber que as coisas estão em pleno andamento.

Praia de Água Doce Filmes e Picolé da Massa Produções estão dando os primeiros passos da Mostra Itinerante de Audiovisual, eis a primeira edição do Cine Bodó. E claro, só pra constar, a família vai aumentar! Minha irmã deu a notícia que uma sobrinha está a caminho.. ê laiá! 
Mas estou aqui escrevendo justo hoje, dia onze, por não estar me organizando pra colação de grau da primeira turma de produção audiovisual; confesso que poderia ter me esforçado mais... sempre podemos mais, abre parênteses, “tem que ter pra trocar”, fecha parênteses.

Pois é, logo eu que tão feliz fiquei e prometi me esforçar à todo vapor, fui descortinando as atividades paralelas à instituição e deu nisso, minha turma se vai e eu vou ficar, tudo bem... cada um no seu tempo. Não sei se um dia vou me arrepender, mas não tenho muita pressa de ver certas coisas acontecerem, vou sentindo assim, sem muito efeito... e é isso, aguentar o peso das escolhas no peito!
Além dos acontecimentos citados, estou reunindo um grupo de vinte e duas pessoas para formarem uma aliança... não sei exatamente como, mas a intuição está chamando, algumas estão aceitando.. o intuito era comprar um anel de formatura, mas como não vou mais colar grau, a intenção é adquirir um símbolo. Caminhos do coração que só vou saber depois, com razão.
Mas o que me coloca aqui pra escrever, ainda é o fervilhar ao tentar escrever a sinopse do filme, pense numa coisa difícil! Tem gente que olha logo a foto, a capa do Dvd, o enquadramento... a sinopse e por último assiste o filme, mas tá... chega de procrastinação, vou ali pensar na sinopse. Algum numerólogo?  

~

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Fanzine Cinemá - 1ª Edição


Em Março deste ano saiu a primeira edição do fanzine "Cinemá", organizado por Jaqueline Santos e Adriano Furtado. O intuito do fanzine é registrar ideias e processos das pessoas que fazem parte da cena cultural da cidade de Manaus, de modo que possamos ~cinematizar~ os dizeres.

Aproveito o fluxo de organização da segunda edição e disponibilizo os textos que fizeram parte da primeira; os autores foram Adriano Furtado, Adrielly Cordeiro, Alexandre Soares, Anália Nogueira, Jaqueline Santos, Érika Tahiane, Hadna Abreu, Jander Manauara, Keila Serruya, Rafael Ramos, Regina Melo e Tony Lee. 
  
O fanzine impresso teve reprodução limitada, estando disponível para aqueles que estiveram presentes no Sarau de apresentação de cada edição, que acontecerá (a priori) anualmente; e vamos ver até quando teremos vontade, conteúdo e participação. 


---

Editorial
Cinemá é uma palavra estranha, oxítona, de acentuação apócrifa. Como compreendê-la? Trata-se de uma pequena transformação da palavra cinema que, vinda do grego, significa movimento (e é assim que foi apropriada pelos físicos, criadores da cinemática que é o estudo dos movimentos dos corpos). Mas não é em referência ao movimento físico dos corpos que o título do fanzine foi forjado, mas em relação ao movimento referido pelo cinema, movimento de fotografias e sons combinados para contar histórias.

Mas porque afinal o fanzine não se chama tão somente Cinema? Porque o acento excêntrico? É que filosoficamente movimento é algo muito mais amplo que deslocamento, seja de corpos, fotografias ou sons. Movimento é transformação, encontro, crescimento, nascimento e morte, progresso e regresso. Se há esperança, é no movimento que ela se apoia. Se há desejo, é o movimento que o governa.

Buscando o encantamento de um movimento criativo nasceu Cinemá, uma palavra-mudança, palavra-encontro e, porque não, palavra-desencontro. E foi justamente para escapar da imobilidade em torno das identidades e autoridades que, na presente edição, resolvemos não identificar a autoria dos textos e ilustrações, cujos autores estão listados na última capa. Deste modo, celebrando o movimento, saudamos a vida.

Boa leitura.
 
---

O grande lance é a câmera e o ator não serem percebidos na cena.

---

Lucinha assim tão rasgada, tão presente, tão pulsante... e antes?

---

Simples (Música!) Envolvente (Cinema!) Idéias e mais idéias (vinho e outras cositas más) e na hora certa (21:00!) Sei lá depois de tantos carnavais sem querer descobri o sentido desse tár Natal! Um brinde à nois e aqueles poucos segundos que me trouxeram energias eternas!

---

E quando estivermos nas escaladas da vida, muitas vezes teremos apenas os fios de alta tensão como apoio e quando eles acharem que estamos mortos, sairemos dessa vida para entrarmos na história! Avante guerreiros pois os nossos inimigos são invisíveis.

---

Se você não projetar o seu futuro, sempre existirá quem esteja planejando tê-lo em seus projetos, em troca de um salário mínimo e mais benefícios.. Se você não é por você mesmo, quem será?

---

Gostaria de dizer que: 
Só pessoas saudáveis tem cU!
O medo movE mundo
SexO é biológico: 
A  liberdadE  não se compra (?)
As certezas são falhas;
Ser negrA é difícil...
Rosa não é uma cor feminina.
As lembranças são mentirosAS. 
Que eu tenho fobiA de água* 
Ser mãe é umA descoberta
Cólica menstrual é um infernO
ChorO me irrita.
Farinha é melhor que arroz.
Só fumo maconha com quem confio!
A Arte me deixa viver.
Que sou de Oxum.
E não me importo o que você pensa de mim. 

---

Alvo (ou acompanhando colega que foi tomar injeção)
Espera, espera, espera. Indivíduo encantado. Tecido níveo sobre tecido moreno. Preparação. Fármaco. Afrodisíaco. Borboleta no braço. Borboleta no estômago. Voz sólida. Rubro líquido. A limpeza vem do hábito mas ainda bagunça a balbúrdia já instaurada. Now I wanna talk about it. Os termos corretos, a melhora no humor. O sangue qualhou. Ou coagulou. Correção. Teatro sensorial. Do ser alvo. Em um alvo. Breve torpor. Breve sorriso. Breve momento. Músculo não sente picada. Pele sim. Coração também.

---

Sob o sol escaldante do meio dia, as pernas negras, em passos trêmulos, marcam o caminho. Talvez em samba ou tango, sem traçar em linhas firmes o destino. Cabelos brancos denunciam o tempo vivido. O corpo côncavo conota o tempo sofrido. Os pés calçam verde- esperança, em sandálias plásticas. O sorriso e olhar pulsam viiida. Os cabelos coloridos, avermelhados sobre os fios brancos esfumaçados me fazem perceber a juventude se expressar. Em movimentos levemente dançantes, descompassados, me oferece um panfleto. Vende-se gás. Anuncia o enunciado. Aceito e agradeço. Agraciada desejo dar-lhe um abraço. Como se em um só gesto pudesse suprimir todas dores do mundo. Em suas vivencias não cabem meu afago. Despercebidos os passos seguem. Quando viva me configuro em arrepios. A realidade crua pede lágrimas. Penso se não há quem possa lhe dar cuidados? Se não há quem possa amenizar os esforços desse corpo cansado? Negra força, inquieta, segue a caçada. Nessa luta interminável pela sobrevivência na floresta de concreto e aço. Não só dói a fome, como desejo de ter voz. Diante a faixa de pedestre tenta, desconfiada, atravessar a avenida. Os automóveis não param. A arrogância é proporcional ao tamanho do carro. Buzinas e gritos incumbindo de culpa o desejo e direito de atravessar. De cabelos alisados, unhas pintadas em esmalte cintilante, calça de malha apertada, sobrancelhas arqueadas, barriga a mostra e um curumim a tiracolo, a jovem cabocla aproxima-se da faixa expressando querer passar. Nem o sol sensível a todos, nem a ausência de sombras-árvores no lugar, nem a idade aparente da senhora negra, nem a criança apoiada ao quadril da cabocla sensibilizam as arrogâncias em movimento. Verbalizando a fúria, a juventude demonstra seu ímpeto. E os pés pisam a faixa. O corpo em movimento brusco, sobressaltado, protege a criança. Borracha queimada marca as listras brancas que no chão nada falam. A senhora de susto corre. E a cabocla de susto para. As vozes que o ônibus compunha, exaltadas, profanam palavras cortantes. A voz que morte pulsa ecoa do caminhão para o mundo. As mercadorias, outrora frutos da terra, espalhadas pelo chão enfurece e preocupa o rapaz. Descalços, três curumins correm e apanham as palmas de bananas pelo chão. A diversão é correr, e deixar o menor para trás. Este que apouco aprendeu a andar, hoje, aprende na pele o que a vida tem de mais doloso. Corro e socorro o menino no colo. Buzinas enfurecidas compõem a caótica realidade. Como quem assume papel regulador, agora do outro lado da avenida, chamo atenção dos meninos e peço que tenham c u i d a d o. Rostos surpresos e assustados me fitam os olhos. Transparecem as crianças no passado remoto. Perdidas na função que lhes foi dada... De cuidar sem ter tido cuidado. Dos meus braços aos braços do garoto, dos braços do garoto aos braços do mundo aos braços punitivos do Estado.

---

O recorte se fez necessário... Mas confesso ter estranhado um pouco a felicidade que me consumiu. É como se estivesse feliz apenas com a presença, com o olhar, com a confirmação do que eu já sabia... Descobri outras coisinhas; além do anel insistente, como quem delimita aproximação, vi também as outras duas estrelas. Quando o prato se esvaziou, os olhos se encheram, mordi os lábios para o rosto não molhar; me entristeci, mas logo em seguida lembrei que estávamos bem tranqüilos distante um do outro. Fim do almoço, me entregou a sacola do DB com o vestidinho de vermelho surrado e o azul vivo e colado, o xale e uma calcinha; tive a sensação de ter deixado três, mas só retornou uma. O telefone tocou, atendi. Essa foi a deixa para sua partida... escapulida, na verdade. Olhei a situação meio desconcertada, esperava pelo menos um abraço. Me entristeci novamente e desliguei; não corri atrás como nas outras vezes, simplesmente deixei ir, como quem vê o igarapé carregar a folha amarelada... Deixei ir, mesmo sabendo que ainda amava. Mas se voltou ao que era, o que resta fazer? Engraçado que aí comecei a entender, o que são essas coisas de amar. Se fosse um ensaio começaria por hoje: Pois hoje senti que amar é uma felicidade que invade o peito com a presença do outro; é ser feliz vendo o outro feliz também; é compreender algumas decisões, mesmo sem concordar. Afinal de contas o amor não acaba, sempre tem, mesmo que as portas se fechem, pode bater que ainda vem. Amores vão, virão, irão, grão... amar é deixar livre, sabendo que pode voltar.

---

Escotilha 
Meu verso é rip rap que desemborca na boca
Enche rápido no balde mesmo se “a chuva” é pouca
E o meu igarapé vai empestando o cheiro
Não trisca a tua sandália nesse meu lameiro
Passeino olho d’aguaprimeiro e era limpo que só
Agora é pau, é pedra, é cabeça de bodó,
É sacola sem dá nó e é geladeira boiando
Caboclo cospe da maromba enquanto eu vou passando.
Minha água fede a podre – “É pôdi mermo papai!”
Mas se tu passar na minha beira, eu sei pra onde é que tu vaaaai...
Se eu já te vi ticar curimatã no giral
E agora pra sobra que te resta voa no meu canal
Por “encrível que parível” eu já matei tua sede
Agora abaixa essa escotilha e se embala na rede
Mas quando já menino tá de queixo caído?
Meu verso é lamaçal escarado e cuspido!

--

Eu Filósofo
Não ha nada mais vivo em mim que a filosofia, não ha momentos que não esteja livre a ela, e quando desprendo um pouco,  existo, mas não me perco nas coisas, sou parte destas, e nessa percepção, sem ópio ou religião, não religo as coisas mesmas, nem projeto intensa intenções, são breves momentos, e mesmo tão breves, a consciência já desperta sussurrando: não ha como, não suporto, me recuso ser nada.

---


Despertei 

E olhava fixo para a luz.
Fechei meus olhos e além do escuro vi Pequenos pontos verdes sobrepondo Manchas avermelhadas.
Tudo lentamente se movia.
Abri meus olhos e além do teto branco,  Também capturei manchas azuladas Dançantes.

Imagino que sejam fragmentos de Imagens recortadas e soltas, 

As que sobraram de uma 
Composição de sonhos,
Pixels solitários flutuando no espaço.

Eu respirava lentamente. 

Suspirei.
Senti os ombros marcados,
Queimaduras leves no rosto.

Ao mesmo tempo meu corpo congelado

Manhã de chuva,
Ar condicionado no máximo.

Conforme as manchas dançantes, 

Meus pensamentos me embalavam.

A experiência de abrir e fechar os olhos, Na manhã de chuva,

De corpo sentido,
Decisões ardidas...
Suspiro.
Não é nada fácil.

---

Quarta-Feira de Cinzas Passadas
Meu recorde pessoal agora: Terminar o poema antes da música terminar. Me embalar nos acordes que surgiram nos teus dedos Imaginar os romances que eu nunca pude vivenciar E tu vens Estou escutando Nuvens de som, bela canção Onírica visão, obra-prima da ilusão Outras criaturas galantes me trouxeram Guiaram meu barco pelo rio de lágrimas que verti Em eras pretéritas, tu encheste alguns baldes Para este reservatório Distante tão perto Ao alcance das minhas falanges Na lonjura de lembranças inexistentes Aperto o play insistentemente Estuprando o sentimento "É difícil conversar com alguém que ainda pensa que estamos no passado." "É difícil conversar com alguém que ainda é o meu passado." Perdoa, não sei o que digo As notas cessaram Teu encanto também Sobre o que estávamos falando?

---

Era
Teu rosto encostou no meu coração na noite   que descobri o cheiro da tua verdade escondida na voz  doce e  na boca de pão de pressa que eu não esqueço. Tu me levaste prum beco na noite que eu bêbado de sinceridade me afoguei na verdade do teu riso largo. A gente se encontrou por alguns segundos   no eterno que fica num lugar branco e  azul. Fui depois nas tuas linhas  encontrar o desenho que tinha perdido. Voltei na minha máquina do tempo praquela noite e tentei significar aquelas linhas com os meus encantamentos de menino que não se masturba.   No momento pude me ver e te ver e vi dois bobos dissimulados e cínicos de teatro num genuíno sentimento de vida. Eu ri. E voltei pro presente. Fui atrás de ti e só vi o azul triste que me dizia que o passado não volta pra quem ainda menino acredita que felicidade tá no final do arco-íris de desenho da tarde. Te esperei atrás da porta  várias vezes pensando que o sempre iria pegar na minha mão e me levar de carro até os touros negros raivosos que esperam o tempo chegar juntos com as águas azuladas e salgadas do negro. Eu digo. Eu digo de voz de pensamento.  O vento traz a paz e o azul nostálgico do teu sorriso triste do quadro de impressionismo. Eu queria te dizer isso e o quanto te desejo como menino que não se masturba em verdades de palavras  de boca de gente. Mas eu tenho medo. Medo de eu não ver você no barco no cais do porto no final da tarde laranja. E esse medo me impossibilita de pegar minha máquina do tempo e ir no futuro ver o cais. O porto. O barco. Você. Acomodo-me na covardia da minha imaginação de escritor de contos de fantasia.  Perdoa-me. Voltei pra praça embriago e gritei Just Like Starting Over, Starting Over, Starting Over… Só o ninguém escutou  o eco das palavras da boca mentirosa. Então eu corri, corri, corri. Fui até minha máquina do tempo. Fui pra um tempo desconhecido entre o presente e o futuro.  Eu vi você sentada na beira da estrada azul e branca. Foi aí que descobri que a máquina me levou pro   eterno. Então eu abandonei a minha máquina como quem abandona uma bicicleta na garagem de casa, sentei ao seu lado e peguei na sua mão melancólica de viúva pragmática.   Não sei o que aconteceu depois.  Como num livro bobo de garoto que não se masturba, começou e terminou com ERA.

 ---
A Palavra-Chave
Descobrir
Parece ser a palavra-chave para abrir caminhos

Alguma coisa modifica a linguagem
E coloca em suspense
O que vai acontecer

Parece que as pessoas estão muito preocupadas
Em abrir caminhos

Mas ainda não descobriram
a palavra-chave

---

Ponte

Isso é apenas o início
Tente fazer uma final feliz.

Lembrança é branca
Poente é paz

Tente por um momento
A ponte que a gente faz

Nascente é visão de amanhã...
Nada de novo!

Provo do velho
Velho de nada...
... Tudo de novo!

---

Ser vivo
Sejas vivo
Se vives
A servi-lo
Vives sem
Ser

O vivido diz
Que só será vivo
No dia em que morrer

---
Alzira duas caras, assim era conhecida a moradora de rua, pelos camelos da Avenida Eduardo Ribeiro, ela residia no centro da Cidade de Manaus. Sempre com os pés descalços e usando uma saia de renda branca e encardida pelo tempo.
A velha com apenas oito dedos nas mãos ficava olhando sempre o transito movimentado da Getúlio Vargas, ficava sempre pedindo esmola, quando faltava, ela pedia “merenda” dos vendedores de salgados. Ela sempre atuava em seus diálogos, às vezes, chegava próximo a uma universidade particular e cumprimentava os universitários, mais sempre tinha alguns que não gostavam da atitude de boa fé dela.
Em uma noite fria e perturbadora, ela tentou dormir próximo a um beco formado por lixos caseiros que ficava próximo à algumas lojas de roupas de grife, mesmo sendo rejeitada por ali, ela sempre pediu com educação, onde quer que fosse dormir, nem que seja por uma noite.
Mais nesse dia, ela viu um homem velho surgindo da entrada do beco escuro, onde ela se encontrava, deitada ela permaneceu sozinha, ouvindo os lentos e rancorosos passos do homem misterioso, e ao se aproximar de Alzira, ele dá a ela uma sacola de plástico preto, com um peso, é meio estranho essa atitude pensou logo Alzira duas caras, ela ficou bastante nervosa e segurou fortemente um pedaço de pau velho e saiu batendo no velho, caindo entre os lixos ele dizia para ela parar de bater em suas costas, pois estava doente com tuberculose e não queria que se agravasse sua terrível doença.
Alzira não quis saber sobre as justificativas do pobre homem e bateu nele sem nenhum motivo. Já exausta de tanto espancar o homem, ela se senta com o pau em suas mãos em pedaços, e o homem coitado! Deitado, e todo ensanguentado no meio dos lixos jogados.
Alzira começa a chorar atordoadamente, colocando suas mãos em seu rosto e ficando em silêncio. O velho mesmo machucado se afasta dela e retira do outro saco, um objeto que está empacotado.
Alzira segura a sacola preta que o velho lhe deu, e abri. Ela retira de dentro quatro rolos de filmes super8, e neles estão escritos, filmes B dos anos 60. Assim que a maldosa mulher olha os rolos, se põe a chorar, pois ela relembra de sua juventude, seu passado nostálgico; tempos bons quando ia com seus namorados no Antigo Cine Guarany assistir filmes comerciais, e notava como era mágico ver filmes projetados em telas máximas e grandiosas, o primeiro beijo, o primeiro contado com a pipoca combo, o gosto de sentar nas poltronas confortadas.
O velho morador de rua abre o pacote e retira de dentro um pequeno projetor a bateria, e diz a Alzira:
- vem vamos reviver aqueles momentos juntos!
Alzira não consegue lembra do velho homem, mais ela tem certeza que ele foi um de seus namorados. Juntos eles montam com um pedaço de tecido branco uma tela e começam a rodar o filme em super8. Mesmo num lugar apertado e fazendo de poltrona seus entulhos de lixos reciclados, e assim Alzira viu que valeu a pena viver todos esses anos, esperando por momentos mágicos e nostálgicos de lembranças boas de um passado que nunca foi esquecido. O tempo não apaga nenhuma memória, mais sempre faz reacender a chama que nunca foi apagada para sempre.

---

Um rabo, eis a extensão da coluna vertebranimal.

---

Quando o fotógrafo desistiu do filme, ele começa a fazer planos bonitos.

---

Os tons são sempre opacos... como se já tivessem sido muito usados; talvez a barba, os óculos, o cabelo bagunçado e tudo o mais... Me refiro à camisa dos dois que estão sentados à minha frente; e à dele, o professor, homens dos olhos delineados. Essas cores me causam sensações... no estômago! Borboletas? Morcegos? Alecrim? É fome, nem combina com as cores.

---

O padrão serve apenas como referência.

---

... um Acidente sem importância surfando no caos da evolução...
...desprezado fui aprendendo a desprezar o desprezo, de sofrimento em sofrimento acostumei a não acostumar, usei valores infundados, de cínico feliz fui me tornado hipócrita cômico infeliz... ...mas se nada mais me satisfazia, depois de toda tentativa, já não era insatisfeito, o que restava era a cobiça de não ter cobiça, um morto vivo sem desejo, um hipócrita cínico dialético, sorriso em desespero, heresia, blasfêmia contra a alta escala evolutiva, natural, seletiva de homens intelectuais, e como eu ria, eu chorava e ria de seus status graduados, rotulados, pós-doctoooorizados... ...métricas, padrões, pontos de partida... ...bases persuasivas... ...intuição, dedução, logica, poesia, fundamentação, fundamentalistas, multiversos inversos formando átomos... ...desintegrando atos... ...novo palato, nova rima nova língua, linguajar, liturgia caçoando da tradução, da interpretação das alegorias dos mitos, mantidas na concepção da ilusão de religar, que religa o ser ao nada... ...o nada... ...a presunção de tudo... ...em contrapartida pelo silencio, a cultura gritante ridícula tradicionalista, que segura e estima o homem, condenando o super-homem à loucura, a um pré-frontal mais ligado a bunda do que em seu self, do que em seu eu-transcendental, mantendo os Daseins afogados na cotidianidade, relaxando-excitando, excitando-relaxando, fazendo dum inferno as inter-relações, seu delírio existencial, conseguem ser mais incrível que o sentido que dão para um funeral, um natal ou carnaval... ...disseram-me que são as verdades que criam as mentiras... ...as mentiras que criam as cidades... ...angustia... ...a fuga da morte que inventa a esperança da vida...


---


Desde já agradecemos à todos os autores que disponibilizaram seus textos para compor a primeira edição do Cinemá, em breve a segunda edição!