Em Março deste ano saiu a primeira edição do fanzine "Cinemá", organizado por Jaqueline Santos e Adriano Furtado. O intuito do fanzine é registrar ideias e processos das pessoas que fazem parte da cena cultural da cidade de Manaus, de modo que possamos ~cinematizar~ os dizeres.
Aproveito o fluxo de organização da segunda edição e disponibilizo os textos que fizeram parte da primeira; os autores foram Adriano Furtado, Adrielly Cordeiro, Alexandre Soares, Anália Nogueira, Jaqueline Santos, Érika Tahiane, Hadna Abreu, Jander Manauara, Keila Serruya, Rafael Ramos, Regina Melo e Tony Lee.
O
fanzine impresso teve reprodução limitada, estando disponível para aqueles que
estiveram presentes no Sarau de apresentação de cada edição, que
acontecerá (a priori) anualmente; e vamos ver até quando teremos vontade, conteúdo e participação.
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Editorial
Cinemá é uma palavra estranha, oxítona, de acentuação apócrifa. Como compreendê-la? Trata-se de uma pequena transformação da palavra cinema que, vinda do grego, significa movimento (e é assim que foi apropriada pelos físicos, criadores da cinemática que é o estudo dos movimentos dos corpos). Mas não é em referência ao movimento físico dos corpos que o título do fanzine foi forjado, mas em relação ao movimento referido pelo cinema, movimento de fotografias e sons combinados para contar histórias.
Mas porque afinal o fanzine não se chama tão somente Cinema? Porque o acento excêntrico? É que filosoficamente movimento é algo muito mais amplo que deslocamento, seja de corpos, fotografias ou sons. Movimento é transformação, encontro, crescimento, nascimento e morte, progresso e regresso. Se há esperança, é no movimento que ela se apoia. Se há desejo, é o movimento que o governa.
Buscando o encantamento de um movimento criativo nasceu Cinemá, uma palavra-mudança, palavra-encontro e, porque não, palavra-desencontro. E foi justamente para escapar da imobilidade em torno das identidades e autoridades que, na presente edição, resolvemos não identificar a autoria dos textos e ilustrações, cujos autores estão listados na última capa. Deste modo, celebrando o movimento, saudamos a vida.
Boa leitura.
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O
grande lance é a câmera e o ator não serem percebidos na cena.
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Lucinha
assim tão rasgada, tão presente, tão pulsante... e antes?
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Simples
(Música!) Envolvente (Cinema!) Idéias e mais idéias (vinho e outras cositas
más) e na hora certa (21:00!) Sei lá depois de tantos carnavais sem querer
descobri o sentido desse tár Natal! Um brinde à nois e aqueles poucos segundos
que me trouxeram energias eternas!
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E
quando estivermos nas escaladas da vida, muitas vezes teremos apenas os fios de
alta tensão como apoio e quando eles acharem que estamos mortos, sairemos dessa
vida para entrarmos na história! Avante
guerreiros pois os nossos inimigos são invisíveis.
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Se você
não projetar o seu futuro, sempre existirá quem esteja planejando tê-lo em seus
projetos, em troca de um salário mínimo e mais benefícios..
Se você não é por você mesmo, quem será?
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Gostaria de dizer
que:
Só pessoas saudáveis
tem cU!
O medo movE mundo
SexO é
biológico:
A liberdadE
não se compra (?)
As certezas são
falhas;
Ser negrA é
difícil...
Rosa não é uma cor
feminina.
As lembranças são
mentirosAS.
Que eu tenho fobiA
de água*
Ser mãe é umA
descoberta
Cólica menstrual é
um infernO
ChorO me irrita.
Farinha é melhor que
arroz.
Só fumo maconha com
quem confio!
A Arte me deixa
viver.
Que sou de Oxum.
E não me importo o
que você pensa de mim.
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Alvo (ou
acompanhando colega que foi tomar injeção)
Espera, espera,
espera. Indivíduo encantado. Tecido níveo sobre tecido moreno. Preparação.
Fármaco. Afrodisíaco. Borboleta no braço. Borboleta no estômago. Voz sólida.
Rubro líquido. A limpeza vem do hábito mas ainda bagunça a balbúrdia já
instaurada. Now I wanna talk about it. Os termos corretos, a melhora no humor.
O sangue qualhou. Ou coagulou. Correção. Teatro sensorial. Do ser alvo. Em um
alvo. Breve torpor. Breve sorriso. Breve momento. Músculo não sente picada.
Pele sim. Coração também.
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Sob
o sol escaldante do meio dia, as pernas negras, em passos trêmulos, marcam o
caminho. Talvez em samba ou tango, sem traçar em linhas firmes o destino.
Cabelos brancos denunciam o tempo vivido. O corpo côncavo conota o tempo
sofrido. Os pés calçam verde- esperança, em sandálias plásticas. O sorriso e
olhar pulsam viiida. Os cabelos coloridos, avermelhados sobre os fios brancos
esfumaçados me fazem perceber a juventude se expressar. Em movimentos
levemente dançantes, descompassados, me oferece um panfleto. Vende-se gás.
Anuncia o enunciado. Aceito e agradeço. Agraciada desejo dar-lhe um abraço.
Como se em um só gesto pudesse suprimir todas dores do mundo. Em suas vivencias
não cabem meu afago. Despercebidos os passos seguem. Quando viva me configuro
em arrepios. A realidade crua pede lágrimas. Penso se não há quem possa lhe dar
cuidados? Se não há quem possa amenizar os esforços desse corpo cansado? Negra
força, inquieta, segue a caçada. Nessa luta interminável pela sobrevivência na
floresta de concreto e aço. Não só dói a fome, como desejo de ter voz. Diante a
faixa de pedestre tenta, desconfiada, atravessar a avenida. Os automóveis não
param. A arrogância é proporcional ao tamanho do carro. Buzinas e gritos
incumbindo de culpa o desejo e direito de atravessar. De cabelos alisados, unhas
pintadas em esmalte cintilante, calça de malha apertada, sobrancelhas
arqueadas, barriga a mostra e um curumim a tiracolo, a jovem cabocla
aproxima-se da faixa expressando querer passar. Nem o sol sensível a todos, nem
a ausência de sombras-árvores no lugar, nem a idade aparente da senhora negra,
nem a criança apoiada ao quadril da cabocla sensibilizam as arrogâncias em
movimento. Verbalizando a fúria, a juventude demonstra seu ímpeto. E os pés
pisam a faixa. O corpo em movimento brusco, sobressaltado, protege a criança.
Borracha queimada marca as listras brancas que no chão nada falam. A senhora de
susto corre. E a cabocla de susto para. As vozes que o ônibus compunha,
exaltadas, profanam palavras cortantes. A voz que morte pulsa ecoa do caminhão
para o mundo. As mercadorias, outrora frutos da terra, espalhadas pelo chão
enfurece e preocupa o rapaz. Descalços, três curumins correm e apanham as
palmas de bananas pelo chão. A diversão é correr, e deixar o menor para trás.
Este que apouco aprendeu a andar, hoje, aprende na pele o que a vida tem de
mais doloso. Corro e socorro o menino no colo. Buzinas enfurecidas compõem a
caótica realidade. Como quem assume papel regulador, agora do outro lado da
avenida, chamo atenção dos meninos e peço que tenham c u i d a d o. Rostos
surpresos e assustados me fitam os olhos. Transparecem as crianças no passado
remoto. Perdidas na função que lhes foi dada... De cuidar sem ter tido cuidado.
Dos meus braços aos braços do garoto, dos braços do garoto aos braços do mundo
aos braços punitivos do Estado.
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O recorte se fez
necessário... Mas confesso ter estranhado um pouco a felicidade que me
consumiu. É como se estivesse feliz apenas com a presença, com o olhar, com a
confirmação do que eu já sabia... Descobri outras coisinhas; além do anel
insistente, como quem delimita aproximação, vi também as outras duas estrelas.
Quando o prato se esvaziou, os olhos se encheram, mordi os lábios para o rosto
não molhar; me entristeci, mas logo em seguida lembrei que estávamos bem
tranqüilos distante um do outro. Fim do almoço, me entregou a sacola do DB com
o vestidinho de vermelho surrado e o azul vivo e colado, o xale e uma calcinha;
tive a sensação de ter deixado três, mas só retornou uma. O telefone tocou,
atendi. Essa foi a deixa para sua partida... escapulida, na verdade. Olhei a
situação meio desconcertada, esperava pelo menos um abraço. Me entristeci
novamente e desliguei; não corri atrás como nas outras vezes, simplesmente
deixei ir, como quem vê o igarapé carregar a folha amarelada... Deixei ir,
mesmo sabendo que ainda amava. Mas se voltou ao que era, o que resta fazer?
Engraçado que aí comecei a entender, o que são essas coisas de amar. Se fosse
um ensaio começaria por hoje: Pois hoje senti que amar é uma felicidade que
invade o peito com a presença do outro; é ser feliz vendo o outro feliz também;
é compreender algumas decisões, mesmo sem concordar. Afinal de contas o amor
não acaba, sempre tem, mesmo que as portas se fechem, pode bater que ainda vem.
Amores vão, virão, irão, grão... amar é deixar livre, sabendo que pode voltar.
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Escotilha
Meu verso é rip rap
que desemborca na boca
Enche rápido no
balde mesmo se “a chuva” é pouca
E o meu igarapé vai
empestando o cheiro
Não trisca a tua
sandália nesse meu lameiro
Passeino olho
d’aguaprimeiro e era limpo que só
Agora é pau, é
pedra, é cabeça de bodó,
É sacola sem dá nó e
é geladeira boiando
Caboclo cospe da
maromba enquanto eu vou passando.
Minha água fede a
podre – “É pôdi mermo papai!”
Mas se tu passar na
minha beira, eu sei pra onde é que tu vaaaai...
Se eu já te vi ticar
curimatã no giral
E agora pra sobra
que te resta voa no meu canal
Por “encrível que
parível” eu já matei tua sede
Agora abaixa essa
escotilha e se embala na rede
Mas quando já menino
tá de queixo caído?
Meu verso é lamaçal
escarado e cuspido!
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Eu Filósofo
Não
ha nada mais vivo em mim que a filosofia, não ha momentos que não esteja livre
a ela, e quando desprendo um pouco, existo, mas não me perco nas coisas,
sou parte destas, e nessa percepção, sem ópio ou religião, não religo as coisas
mesmas, nem projeto intensa intenções, são breves momentos, e mesmo tão breves,
a consciência já desperta sussurrando: não ha como, não suporto, me recuso ser
nada.
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Despertei
E olhava fixo para a luz.
Fechei meus olhos e além do escuro vi Pequenos pontos verdes sobrepondo Manchas
avermelhadas.
Tudo lentamente se movia.
Abri meus olhos e além do teto branco,
Também capturei manchas azuladas Dançantes.
Imagino que sejam
fragmentos de Imagens recortadas e soltas,
As que sobraram de uma
Composição de sonhos,
Pixels solitários flutuando no espaço.
Eu respirava
lentamente.
Suspirei.
Senti os ombros marcados,
Queimaduras leves no rosto.
Ao mesmo tempo meu
corpo congelado
Manhã de chuva,
Ar condicionado no máximo.
Conforme as manchas
dançantes,
Meus pensamentos me embalavam.
A experiência de
abrir e fechar os olhos, Na manhã de chuva,
De corpo sentido,
Decisões ardidas...
Suspiro.
Não é nada fácil.
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Quarta-Feira de Cinzas Passadas
Meu recorde pessoal
agora: Terminar o poema antes da música terminar. Me embalar nos acordes que
surgiram nos teus dedos Imaginar os romances que eu nunca pude vivenciar E tu
vens Estou escutando Nuvens de som, bela canção Onírica visão, obra-prima da ilusão
Outras criaturas galantes me trouxeram Guiaram meu barco pelo rio de lágrimas
que verti Em eras pretéritas, tu encheste alguns baldes Para este reservatório
Distante tão perto Ao alcance das minhas falanges Na lonjura de lembranças
inexistentes Aperto o play insistentemente Estuprando o sentimento "É
difícil conversar com alguém que ainda pensa que estamos no passado."
"É difícil conversar com alguém que ainda é o meu passado." Perdoa,
não sei o que digo As notas cessaram Teu encanto também Sobre o que estávamos
falando?
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Era
Teu rosto encostou
no meu coração na noite que descobri o
cheiro da tua verdade escondida na voz
doce e na boca de pão de pressa
que eu não esqueço. Tu me levaste prum beco na noite que eu bêbado de
sinceridade me afoguei na verdade do teu riso largo. A gente se encontrou por
alguns segundos no eterno que fica num
lugar branco e azul. Fui depois nas tuas
linhas encontrar o desenho que tinha
perdido. Voltei na minha máquina do tempo praquela noite e tentei significar
aquelas linhas com os meus encantamentos de menino que não se masturba. No momento pude me ver e te ver e vi dois
bobos dissimulados e cínicos de teatro num genuíno sentimento de vida. Eu ri. E
voltei pro presente. Fui atrás de ti e só vi o azul triste que me dizia que o
passado não volta pra quem ainda menino acredita que felicidade tá no final do
arco-íris de desenho da tarde. Te esperei atrás da porta várias vezes pensando que o sempre iria pegar
na minha mão e me levar de carro até os touros negros raivosos que esperam o
tempo chegar juntos com as águas azuladas e salgadas do negro. Eu digo. Eu digo
de voz de pensamento. O vento traz a paz
e o azul nostálgico do teu sorriso triste do quadro de impressionismo. Eu
queria te dizer isso e o quanto te desejo como menino que não se masturba em
verdades de palavras de boca de gente.
Mas eu tenho medo. Medo de eu não ver você no barco no cais do porto no final
da tarde laranja. E esse medo me impossibilita de pegar minha máquina do tempo
e ir no futuro ver o cais. O porto. O barco. Você. Acomodo-me na covardia da
minha imaginação de escritor de contos de fantasia. Perdoa-me. Voltei pra praça embriago e
gritei Just Like Starting Over, Starting Over, Starting Over… Só o ninguém escutou o eco das palavras da boca mentirosa. Então
eu corri, corri, corri. Fui até minha máquina do tempo. Fui pra um tempo
desconhecido entre o presente e o futuro.
Eu vi você sentada na beira da estrada azul e branca. Foi aí que descobri
que a máquina me levou pro eterno.
Então eu abandonei a minha máquina como quem abandona uma bicicleta na garagem
de casa, sentei ao seu lado e peguei na sua mão melancólica de viúva
pragmática. Não sei o que aconteceu
depois. Como num livro bobo de garoto
que não se masturba, começou e terminou com ERA.
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A
Palavra-Chave
Descobrir
Parece
ser a palavra-chave para abrir caminhos
Alguma
coisa modifica a linguagem
E
coloca em suspense
O que
vai acontecer
Parece
que as pessoas estão muito preocupadas
Em
abrir caminhos
Mas
ainda não descobriram
a
palavra-chave
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Ponte
Isso é
apenas o início
Tente
fazer uma final feliz.
Lembrança
é branca
Poente
é paz
Tente
por um momento
A ponte
que a gente faz
Nascente
é visão de amanhã...
Nada de
novo!
Provo
do velho
Velho
de nada...
...
Tudo de novo!
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Ser vivo
Sejas vivo
Se vives
A servi-lo
Vives sem
Ser
O vivido diz
Que só será vivo
No dia em que morrer
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Alzira duas caras,
assim era conhecida a moradora de rua, pelos camelos da Avenida Eduardo
Ribeiro, ela residia no centro da Cidade de Manaus. Sempre com os pés descalços
e usando uma saia de renda branca e encardida pelo tempo.
A velha com apenas
oito dedos nas mãos ficava olhando sempre o transito movimentado da Getúlio
Vargas, ficava sempre pedindo esmola, quando faltava, ela pedia “merenda” dos
vendedores de salgados. Ela sempre atuava em seus diálogos, às vezes, chegava
próximo a uma universidade particular e cumprimentava os universitários, mais
sempre tinha alguns que não gostavam da atitude de boa fé dela.
Em uma noite fria e
perturbadora, ela tentou dormir próximo a um beco formado por lixos caseiros
que ficava próximo à algumas lojas de roupas de grife, mesmo sendo rejeitada
por ali, ela sempre pediu com educação, onde quer que fosse dormir, nem que
seja por uma noite.
Mais nesse dia, ela
viu um homem velho surgindo da entrada do beco escuro, onde ela se encontrava,
deitada ela permaneceu sozinha, ouvindo os lentos e rancorosos passos do homem
misterioso, e ao se aproximar de Alzira, ele dá a ela uma sacola de plástico
preto, com um peso, é meio estranho essa atitude pensou logo Alzira duas caras,
ela ficou bastante nervosa e segurou fortemente um pedaço de pau velho e saiu
batendo no velho, caindo entre os lixos ele dizia para ela parar de bater em
suas costas, pois estava doente com tuberculose e não queria que se agravasse
sua terrível doença.
Alzira não quis
saber sobre as justificativas do pobre homem e bateu nele sem nenhum motivo. Já
exausta de tanto espancar o homem, ela se senta com o pau em suas mãos em
pedaços, e o homem coitado! Deitado, e todo ensanguentado no meio dos lixos
jogados.
Alzira começa a
chorar atordoadamente, colocando suas mãos em seu rosto e ficando em silêncio.
O velho mesmo machucado se afasta dela e retira do outro saco, um objeto que
está empacotado.
Alzira segura a
sacola preta que o velho lhe deu, e abri. Ela retira de dentro quatro rolos de
filmes super8, e neles estão escritos, filmes B dos anos 60. Assim que a
maldosa mulher olha os rolos, se põe a chorar, pois ela relembra de sua
juventude, seu passado nostálgico; tempos bons quando ia com seus namorados no
Antigo Cine Guarany assistir filmes comerciais, e notava como era mágico ver
filmes projetados em telas máximas e grandiosas, o primeiro beijo, o primeiro
contado com a pipoca combo, o gosto de sentar nas poltronas confortadas.
O velho morador de
rua abre o pacote e retira de dentro um pequeno projetor a bateria, e diz a
Alzira:
- vem vamos reviver
aqueles momentos juntos!
Alzira não consegue
lembra do velho homem, mais ela tem certeza que ele foi um de seus namorados.
Juntos eles montam com um pedaço de tecido branco uma tela e começam a rodar o
filme em super8. Mesmo num lugar apertado e fazendo de poltrona seus entulhos
de lixos reciclados, e assim Alzira viu que valeu a pena viver todos esses
anos, esperando por momentos mágicos e nostálgicos de lembranças boas de um
passado que nunca foi esquecido. O tempo não apaga nenhuma memória, mais sempre
faz reacender a chama que nunca foi apagada para sempre.
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Um rabo, eis a
extensão da coluna vertebranimal.
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Quando o fotógrafo
desistiu do filme, ele começa a fazer planos bonitos.
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Os tons são sempre
opacos... como se já tivessem sido muito usados; talvez a barba, os óculos, o
cabelo bagunçado e tudo o mais... Me refiro à camisa dos dois que estão
sentados à minha frente; e à dele, o professor, homens dos olhos delineados.
Essas cores me causam sensações... no estômago! Borboletas? Morcegos? Alecrim?
É fome, nem combina com as cores.
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O padrão serve
apenas como referência.
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...
um Acidente sem importância surfando no caos da evolução...
...desprezado
fui aprendendo a desprezar o desprezo, de sofrimento em sofrimento acostumei a
não acostumar, usei valores infundados, de cínico feliz fui me tornado
hipócrita cômico infeliz... ...mas se nada mais me satisfazia, depois de toda
tentativa, já não era insatisfeito, o que restava era a cobiça de não ter
cobiça, um morto vivo sem desejo, um hipócrita cínico dialético, sorriso em
desespero, heresia, blasfêmia contra a alta escala evolutiva, natural, seletiva
de homens intelectuais, e como eu ria, eu chorava e ria de seus status
graduados, rotulados, pós-doctoooorizados... ...métricas, padrões, pontos de
partida... ...bases persuasivas... ...intuição, dedução, logica, poesia,
fundamentação, fundamentalistas, multiversos inversos formando átomos...
...desintegrando atos... ...novo palato, nova rima nova língua, linguajar,
liturgia caçoando da tradução, da interpretação das alegorias dos mitos,
mantidas na concepção da ilusão de religar, que religa o ser ao nada... ...o
nada... ...a presunção de tudo... ...em contrapartida pelo silencio, a cultura
gritante ridícula tradicionalista, que segura e estima o homem, condenando o
super-homem à loucura, a um pré-frontal mais ligado a bunda do que em seu self,
do que em seu eu-transcendental, mantendo os Daseins afogados na cotidianidade,
relaxando-excitando, excitando-relaxando, fazendo dum inferno as
inter-relações, seu delírio existencial, conseguem ser mais incrível que o
sentido que dão para um funeral, um natal ou carnaval... ...disseram-me que são
as verdades que criam as mentiras... ...as
mentiras que criam as cidades... ...angustia... ...a fuga da morte que inventa
a esperança da vida...
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Desde já agradecemos à todos os autores que disponibilizaram seus textos para compor a primeira edição do Cinemá, em breve a segunda edição!
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